Thursday, May 12, 2011

Do sedentarismo à mobilidade: a escola da era digital



Na era pós-industrial cabe ao homem a tarefa de ser crítico, criativo e ter ideias, por isso, é preciso investir no “Capital Humano” (Crawford, 1994). O professor tem de deixar o seu papel de operário fabril, porque o “apertador de parafusos” não será útil numa empresa moderna.
Existe alguma tensão entre continuar a perpetuar este modelo tradicional de escola ou dar lugar a um modelo baseado na tecnologia móvel, em particular. A sociedade reclama da escola a preparação de jovens capazes de satisfazerem as necessidades laborais e sociais e exige um novo perfil de professor. Há um fosso entre o que se ensina na escola e as competências exigidas no local de trabalho.
A educação está correlacionada com questões do “mundo real”, como o crescimento económico, a eficiência e o desenvolvimento social. Neste sentido, pede-se à escola que prepare as futuras gerações com competências específicas, não apenas com conhecimentos teóricos, mas também com saber-fazer, com conhecimentos aplicados . Os alunos, hoje, estão pouco interessados em passar, uma parte do seu tempo, sentados numa cadeira dentro de uma sala de aula, preferindo substituir as aulas por discussões formais ou informais com os seus colegas em pequenos grupos (Johnson & Lomas, 2005) em ambientes virtuais.
Quando se investe em tecnologia para a sala de aula é necessário mudar a arquitectura do ensino baseado na transmissão ou exposição, em que o professor transmite informação para uma audiência de alunos. Os ambientes com uma estrutura tradicional, por vezes, dificultam a interactividade, a colaboração, o trabalho de grupo e a construção colaborativa que as tecnologias propiciam. Não é possível adoptar um modelo tecnológico e continuar a funcionar de forma tradicional, porque na opinião de Johnson e Lomas (2005, s.p), “New technologies and their adoption have always had an influence on what happens in the classroom”. Para estes autores, as tecnologias com wireless permitem a alunos e professores encontrar novas formas de comunicar, colaborar e interagir. Por isso, é necessário apostar mais em espaços de aprendizagem do que em salas de aulas.
As actividades educativas suportadas por tecnologia permitem aos alunos maior autonomia e participação e exigem novos espaços de aprendizagem. Johnson e Lomas (2005) ao desenvolverem novos espaços de aprendizagem levaram em linha de conta os seguintes princípios:
i) As actividades de aprendizagem ocorrem em maior proporção fora da sala de aula;
ii) A sala de aula deve ser flexível, com mobiliário móvel, para permitir configurações adequadas às diferentes actividades e disciplinas;
iii) Os espaços de aprendizagem devem ser pensados como um ecossistema interconectado;
iv) A tecnologia deve ser padronizada para facilitar a operação;
v) Devem-se criar espaços de aprendizagem tanto informais, como virtuais.
Na educação para o século XXI a aposta deve ser num currículo actual, já que os papéis de alunos e professores podem-se inverter. Porque, em determinado momento, o aluno também pode ser o expositor (conteúdo criado) ou planificador da sua própria aprendizagem. Muitos dos alunos estão mais confortáveis com a tecnologia do que os seus professores (Johnson & Lomas, 2005). Alguns alunos parecem preferir comunicar usando mensagens instantâneas do que estar nas aulas. Preferem novos modos de interacção, comunicação e socialização, o que coloca pressão para que apareçam novos modelos educacionais. Esta situação obriga a repensar a escola e os seus espaços.
A EDUCAUSE , depois de um levantamento feito junto de instituições americanas sobre os seus principais desafios, no que respeita o ensino e aprendizagem com tecnologias, destaca cinco deles:
i) Criar ambientes de aprendizagem que promovam a aprendizagem activa, desenvolvam o pensamento crítico, a aprendizagem colaborativa e a construção do conhecimento;
ii) Desenvolver a literacia digital, visual e informacional nos estudantes;
iii) Atrair e motivar os alunos;
iv) Inovar no ensino-aprendizagem com o uso da tecnologia;
v) Promover o uso das tecnologias no ambiente de ensino-aprendizagem em tempos de crise.
Com o desenvolvimento das tecnologias móveis está-se a impor, no sistema educativo, um novo conceito educacional que obriga a repensar as concepções educacionais mais tradicionais. Johnson (2008) descreve os aspectos em que a aprendizagem tradicional e a aprendizagem móvel diferem nas suas abordagens e onde se cruzam. Para este autor, o mobile learning não consiste apenas em distribuir tecnologias móveis aos alunos com módulos de aprendizagem. Trata-se, antes de mais, de um estado de espírito que leva a aprender sobre o que se pretende, onde quer que se esteja, num ambiente mais informal, graças, em grande parte, às tecnologias móveis. O que a tecnologia móvel permite é mudar “the face of knowledge presentation to knowledge distribution” (Johnson, 2008, s.p). Possibilita o acesso no momento da necessidade e transforma-se noutro meio de transferência de conhecimento.
Para alguns autores (Mifsud, 2002; Tamminem et al., 2004) é necessário que quando se apliquem tecnologias para m-learning se quebrem paradigmas, pois a aprendizagem já não ocorre apenas em locais fixos e formais. As tecnologias móveis podem oferecer possibilidades de desenvolvimento de competências individuais além das proporcionadas pelo e-learning. Isto baseia-se na óptica de que as competências neste contexto, entendidas como uma capacidade de agir num determinado tipo de situação, sustentadas em conhecimentos, habilidades e atitudes, se desenvolvem na acção e de forma situada. Esta situação leva-nos a acreditar que não se pode observar o m-learning da mesma forma que se observa o e-learning “fixo”, visto que a utilização de tecnologias móveis em contexto de mobilidade coloca novas questões, relacionadas com as diferentes dimensões da mobilidade: física, temporal e contextual (Kakihara & Sorensen, 2002). Para além destas questões, o m-learning obriga a repensar as próprias condições do aprendente.
As tecnologias móveis, quando usadas adequadamente, tornar-se-ão naturalmente num outro meio de transferência de conhecimentos. Conforme Davis (2009), elas oferecem novas formas de criar ambientes de aprendizagem dinâmicos e interactivos, dentro e fora da sala de aula, e é preciso adoptá-las porque os jovens, em todo o mundo, estão expostos, no seu quotidiano, a experiências digitais altamente interactivas (Ally, 2007).
Partindo do princípio que a aprendizagem não tem necessariamente de ocorrer em arenas de aprendizagem formais, as tecnologias móveis podem ser usadas como a ponte entre arenas de aprendizagem formais e informais, como sugere Mifsud (2002). Para esta autora, a questão está em saber se a ponte entre a escola e outras arenas abertas ou fechadas não é um obstáculo. Isto coloca a tónica nas estratégias, mudanças e desafios que é necessário equacionar para que a escola aceda e utilize lugares de aprendizagem que sejam alternativas aos espaços de aprendizagem formal fixos.

No comments:

Post a Comment

Note: Only a member of this blog may post a comment.