Friday, May 27, 2011

Aprendizagem mediada por tecnologias móveis: novos desafios para as práticas pedagógicas



A Internet veio revolucionar a forma como vivemos, trabalhamos, aprendemos e nos actualizamos. Nunca na história da humanidade houve um tão grande volume de informação, nas mais variadas áreas do saber, ao alcance de qualquer pessoa. O conhecimento encontra-se muito distribuído e em consequência disso buscam-se novas formas de localizar e utilizar esse conhecimento disperso.
Expressões como "inteligência colectiva" (Pierre Lévy, 1997), "inteligência conectiva" (Derrick & Kerckhove, 1997), "inteligência emergente" (Steven Johnson, 2001), "colectivos inteligentes" (Howard Rheingold, 2002), "cérebro global" (Francis Heylighen et al., 1999), "redes inteligentes" (Albert Barabasi, 2002), "sociedade da mente" (Marvin Minsk, 1997) e “Grow Up Digital “ (Don Tapscott, 2008) são recorrentes e todas elas convergem na ideia de que estamos em rede, interconectados com um número cada vez maior de pontos e com frequência crescente (Costa, 2004). Estes temas estão a ser encarados por educadores como formas de auxiliar as exigências do processo de ensino e aprendizagem, não só das actuais gerações de alunos, mas também das futuras.
Que impacte estão a ter todas as mudanças a que estamos assistindo no aparecimento daquilo a que se chama uma nova ordem educacional? Na opinião de Leadbeater (2000), temos de deixar de olhar para a educação como um ritual de passagem que envolve a aquisição de conhecimentos e qualificações suficientes para entrar na vida adulta. Para este autor, a educação não deve servir apenas para inculcar um conjunto de conhecimentos, mas para desenvolver capacidades básicas de literacia e numeracia e a capacidade de agir com responsabilidade relativamente aos outros, tomar iniciativa e trabalhar de forma criativa e colaborativa.
A educação, actualmente, enfrenta grandes desafios no sentido de preparar as futuras gerações para o mercado de trabalho. Segundo o novo livro branco da Partnership for 21st Century Skills (P21) , os professores não podem lançar a verdadeira educação para o século XXI na escola actual, que reflecte o desenho da Era Industrial, com instalações e horários rígidos, salas de aula e disciplinas fixas. A P21 identificou um conjunto de competências que é necessário desenvolver nos alunos, para melhor enfrentarem os desafios futuros, tais como pensamento crítico, resolução de problemas, comunicação, colaboração, criatividade e inovação.
A economia global exige níveis crescentes de conhecimento e compreensão profunda das forças que moldam o presente e o futuro. Para a ciência cognitiva as competências e os conhecimentos são interdependentes. Por isso, possuir uma base de conhecimento é fundamental para aquisição de mais conhecimento e também de competências. Isto quer dizer que as competências não podem ser adquiridas ou aplicadas de forma eficaz sem conhecimentos prévios, numa ampla gama de assuntos, e a escola tem de estar atenta a isto.
O desenvolvimento do pensamento crítico é um assunto importante na sociedade de informação. Todos os professores devem fazer um esforço para ajudar a desenvolver o espírito crítico em todos os alunos. Resnick (1987) ressalva que o importante é que a escola eduque e ensine a pensar “higher order thinking has always been a major goal of elite educational institutions. The current challenge is to find ways to teach higher order thinking within institutions committed to educating the entire population” (idem, p. 44).
O relatório "21st Century Learning Environments" , divulgado em 2009, sugere que os ambientes de aprendizagem sejam espaços flexíveis, com flexibilidade de tempo e horários, de tipo misto (blended learning), com pleno acesso a ferramentas e recurso digitais e multimédia. Os ambientes de aprendizagem do século XXI devem atender às múltiplas necessidades dos alunos (vistos como um todo), reforçar as relações humanas, dar relevância à aprendizagem e incentivar o envolvimento dos alunos.
O mercado laboral que os alunos enfrentarão tem vindo a ser transformado pela tecnologia, pela globalização e por mudanças demográficas. São factores com os quais se debatem as empresas e que devem preocupar as instituições de ensino. Isto obriga ao desenvolvimento de uma educação formal, mas também contempla a partilha e intercâmbio de conhecimento não-formal e adquirido ao longo da vida, bem como o desenvolvimento de novas competências. As habilidades para desempenho na sociedade da informação e comunicação, centram-se em conhecimentos explícitos requeridos pelo mercado de trabalho (formação, habilidade de computação, escrita ou capacidade de análise).
As instituições de ensino devem caminhar no sentido de formar os futuros trabalhadores para a criatividade, a capacidade de “aprender-a-aprender”, a flexibilidade, a capacidade de lidar com o risco, estarem tecnicamente preparados e treinados para ser hábeis na adaptação a novas tarefas, contextos e exigências. Adaptabilidade, competitividade e flexibilidade são características das empresas da era do conhecimento (Mocelin, 2007). Neste sentido, a utilização de tecnologias, em particular móveis, pelas suas características (portabilidade, interactividade, sensibilidade ao contexto, conectividade, individualidade e imediatismo) poderá ajudar a desenvolver estas competências e a melhor preparar as futuras gerações para vencer os desafios impostos pela nova economia.
O processo de aprendizagem e desenvolvimento de todas as competências exigidas pelo mercado de trabalho não é uma questão fácil, na medida em que estamos a enfrentar algo vanguardista que ainda não conseguimos compreender cabalmente. O desafio é acompanhar as mudanças, num processo de pensamento e reflexão que permita capacitar os futuros trabalhadores para enfrentar estas mudanças e gerar conhecimento necessário a uma boa adaptação e incorporação no meio laboral.
As tecnologias estão a provocar o desenvolvimento de novas oportunidades que devem melhorar e orientar o processo de aprendizagem a um nível superior, em comparação com as condições inimagináveis anos antes. Conhecer a rentabilidade da formação em geral e do m-learning, em particular, poderá permitir introduzir factores de melhoramento e inovação no processo de ensino e aprendizagem dos aprendentes, futuros trabalhadores.
Actualmente, por intermédio do uso de tecnologias móveis wireless, a educação está a ser direccionada para um novo conceito, o mobile learning, que permite o acesso a conteúdos sem limites de espaço e tempo e uma organização mais flexível do tempo de aprendizagem. Em muitos sentidos, o e-learning e o m-learning aproximam-se entre si, já que o poder e a sofisticação dos dispositivos móveis está a aumentar, todavia, a ubiquidade e a sensibilidade ao contexto, serão sempre aspectos da mobilidade que farão do m-learning uma abordagem única e especial na educação (Ismail et al., 2010).
Perrenoud (2000) apresenta as competências para ensinar neste século e os desafios que a escola do século XXI coloca aos professores. Jackie Halaw apresenta três passos essenciais para a aprendizagem do século XXI que vale a pena mencionar: transformar a sala de aula num espaço de aprendizagem criativo; ensinar os alunos para competências de competição, cooperação e colaboração; apresentar os alunos aos seus pares globais e proporcionar-lhes a oportunidade para colaborar. As tecnologias móveis e as ferramentas da Web 2.0 possibilitá-los-ão de entrar na aprendizagem do século XXI.
A aprendizagem é fundamentalmente uma actividade social (Roschelle & Teasley, 1995). Saber como cada indivíduo aprende é importante para qualquer professor e em qualquer ambiente de aprendizagem. Com este conhecimento é possível identificar melhor as dificuldades dos alunos e criar as melhores estratégias de aprendizagem para cada um, porque há alunos que gostam de aprender em conjunto, porém outros preferem fazê-lo individualmente. Segundo Paavola et al. (2002), a aprendizagem é uma questão de construção e aquisição individual, é a capacidade de uma pessoa utilizar e aplicar os conhecimentos em novas situações. Para estes autores “Knowledge is a property and possession of an individual mind” (p.11).
Os ambientes de aprendizagem baseados nas tecnologias têm-se imposto. Uns dão mais ênfase à aprendizagem individual (Sinitsa, 2000), outros à aprendizagem colaborativa (Dalsgaard & Paulsen, 2009; Stahl et al. 2006) e outros a ambas (Rachida et al., 2000). Na literatura aborda-se amplamente a aprendizagem colaborativa ou cooperativa mas muito pouco sobre a aprendizagem individual, que é, todavia, condição necessária à aprendizagem colectiva. Segundo Arteaga e Fabregat (2003) a aprendizagem individual está orientada para satisfazer necessidades do aluno e pode variar no tempo, na forma, no conteúdo e na quantidade, determinando que os ambientes desenvolvidos para apoiar a aprendizagem individual devam ser flexíveis, amigáveis e adaptáveis. De acordo com Sinitsa (2000), a apreciação que um aluno fará de um sistema está determinada pela capacidade do sistema em lhe facilitar a aprendizagem.
A aprendizagem colaborativa, cujas raízes remontam a trabalhos de Piaget (1926) e Vygostsky (1978) está orientada para a criação de conhecimento e pode ser definida como co-construção do conhecimento e mútuo compromisso dos participantes. A colaboração é em termos genéricos qualquer actividade que um par ou mais indivíduos efectuam juntos (Lipponen, 2002). É um catalisador de conhecimentos, orientado para a socialização do processo de aprendizagem (Cañas et al, 2000). A aprendizagem colaborativa tenta eliminar os problemas de isolamento e solidão, incorporando a componente social. Na aprendizagem colaborativa, os alunos aprendem em colaboração uns com os outros. O importante é que cada elemento do grupo contribua para a construção do conhecimento e complemente as ideias dos outros.
A interacção é um factor catalisador do processo de aprendizagem (Kearsley, 2001). Contudo, a criação de conhecimento e a assimilação do conhecimento é sempre um processo individual (Ewing & Miller, 2002). Sendo importante que os sistemas educativos, quer presenciais, quer a distância, proporcionem um suporte adequado para este tipo de aprendizagem.

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